sábado, 24 de janeiro de 2015

Pós parto

O pós parto é sempre um lugar delicado. Eu ficava louca que durante a gravidez todos me diziam: "Aproveita para dormir, porque depois..." e tinham razão. Mesmo estando super mega feliz, o cansaço vem por vezes com muita força. O meu filho é um bebe muito calminho e tranquilo, mas mesmo assim eu fiquei bem cansada.

Uma coisa que me ajudou é que eu sai da maternidade 1 dia depois e fortalecida. O parto, do jeito que foi, fez-me sentir forte, guerreira, pronta para matar um leão, afinal eu sobrevivera kkkk

Mesmo assim as primeiras semanas eu fiquei muito sensível. Não queria sair à rua e achava tudo uma ameaça, de certa forma isso nos ajuda a proteger os pequenos. Ainda hoje vi uma senhora a passear no parque com o seu recém nascido, no meio de uma confusão de gente, impávida e serena, a rir junto de amigas. Não sei como as pessoas reagem de formas tão diferentes. É um exemplo como cada um é de um jeito.

A minha mãe teve que ir embora 5 dias depois e eu chorei bastante. A tia do meu esposo veio nesse dia para eu tomar um banho e eu chorava no banheiro. Parece que o Vicente sentiu e chorou também lá no quarto.
Eu chorei horrores nos primeiros 2 meses. Chorava, mas não era um choro triste, era um choro de cansaço, de sensibilidade, de amor à vida, de medo de morrer. Chorava como forma de dissolver tudo o que passara toda a gravidez. E fez-me muito bem.

A Helo (a minha doula) também nos aconselhou a contratar uma pessoa 3 vezes por semana, para o meu marido não ficar exclusivamente na produção da casa. Só contratamos 2 vezes (e mesmo assim o orçamento é alto), mas ajudou imenso. Os meus sogros vieram direto no primeiro mês e arrumaram, cozinharam e tudo o que precisávamos. Além disso, o meu marido desde o inicio tomou frente em ajudar a trocar fralda, dar banho, enfim, o que ele podia fazer. Eu não fiz nada nos primeiros 2 meses e tenho a certeza que isso foi indispensável para a minha recuperação emocional e para dar toda a atenção possível ao meu nenem sem pirar.

E depois dos ditos 40 dias de pós parto, teve um dia, antes de viajar de férias que eu achei que ia pirar. Fiquei uns dias sem sair de casa, a ver noticias de catástrofe direto (é o que mais tem na tv), 2 dias sozinha, meu marido tinha viajado e comecei a pirar. Que íamos morrer, que o mundo ia acabar...até parece idiota agora, mas como num pesadelo, pareceu bem real.
Liguei para a Helo, conversei com amigas e fui na psicóloga.  E depois as coisas foram entrando na normalidade. Tem certas coisas que eu não faço, porque não me fazem bem. Uma delas é ficar em casa direto, sozinha e ver noticias ruins.

Por outro lado, existem coisas que me fazem bem. Conhecer casais que estejam a viver o mesmo que nós, partilhar experiências com outras mães e pais, procurar família. Este é um belo momento para isso.

Em relação ás transformações corporais, devemos dar tempo ao tempo. 2 dias depois do parto estava a andar, quase sem dor. Mas ainda me sentia pesada e pouco ágil. Parecia que o corpo não era meu, fiquei bastante desajeitada por um bom tempo. Só agora 4 meses depois é que começo a sentir o corpo a encontrar a sua forma. Engordei bastante e estou a perder bem devagar. Tenho tido cuidado com a alimentação, não pulo refeições e ás vezes um doce para alegrar a vida. Na época natalina, em casa dos meus pais comi bastante, mas tentei não exagerar em todas as refeições. Ainda estou com mais 9 kilos do que antes, mas a prioridade é ficar saudável. Não fico feliz em estar gorducha, mas sei que é só por um tempo e realmente agora há outras prioridades e alegrias na minha vida. Não noto diferença nenhuma por ter tido parto normal e está tudo como devia estar, para não ser mais explícita kk

De toda a forma, é um momento diferente, e que bom. Ás vezes é necessário uma nova maneira de enxergar o mundo, novas formas de pensar e agir para evoluirmos. Apesar das dificuldades que possamos encontrar, o pós parto é uma ótima oportunidade para isso.

Amamentar

Mais uma vez o mais importante é o desejo da mãe de amamentar. Se uma mulher não quer mesmo amamentar, então ela tem esse direito.  Sabendo que o peito descair ou não, depende mais da hereditariedade e de mudanças na gravidez que dar de mamar ou não. Por isso não se prive dessa coisa maravilhosa que é amamentar.
Agora se a mulher quer amamentar é importante que ela seja acolhida (de novo) e ajudada nos problemas que ela possa ter. 
Importante ter uma orientação. No inicio dói um pouco (bebê e mãe sem experiência). Caso doa e faça ferida é indispensável ajuda. Penso muito nas mamãs com esse problema, deve ser muito dolorido.. Já não basta a exaustão, ainda ter dor, mas acredite que com ajuda é possível dar de mamar sem dor. Várias mães que conheço passaram essa dificuldade e hoje estão bem 😃

Fundamental: Beber água! 
Aconselharam-me a tomar sol nos mamilos, mas o vizinho da frente sempre aparecia á janela kkk e  passar toalha para enrijecer doía muito, então não fiz nada..

Leite fraco
Este tema deixa-me sempre preocupada com futuras mamãe que possam vir a sofrer com esse mito. 
Porque mito? Quando o bebe nasce é produzido o colostro. É um leite super concentrado em pequena quantidade. A necessidade energética do bebe é imensa e o estômago minúsculo. Não admira que mame todo o dia. Além disso eles ficam cansadinhos e dormem no meio. O movimento de sucção no mamilo emite um sinal para a hipófise que libera um hormônio responsável pela produção de leite. Lindo não é? O instinto de sucção do bebe é muito forte na primeira hora ( por isso é muito importante que o bebe fique junto da mãe nessa primeira hora, chamada Golden, e não a ser aspirado, pesado e afins a menos que precise...) depois disso ele pode ter mais dificuldade (mas continua a querer mamar)
As vezes o leite demora mais ou menos tempo a "descer". Para mim demorou uns 5 dias..nos quais o Vicente ficou colado no peito noite e dia.
Nesse tempo já começa: "Vê se o leite é fraco, a criança chora". Sim, pode chorar por mil razões, mas não pelo leite fraco..
Muitas pessoas, mesmo profissionais dizem que existe leite fraco... Não fazem por mal, querem ajudar, mas além de não ser verdade, não imaginam o que  isso faz sofrer..   uma mãe, atolada de hormônios que a sensibilizam para cuidar do seu bebe, é lhe dito que o seu leite é fraco é um passo para a depressão. Para mim, não tem nada mais gratificante que dar de mamar. Quando alimento o meu filho eu sinto-me a mulher mais poderosa do mundo. E é uma ligação emocional muitíssimo forte. Além dos benefícios que tem para o bebe claro. Nunca é de menos frisar que se você não pode dar leite (por quaisquer razões de saúde) ou porque não quer, que seja má mãe por isso. Claro que não. Mas se você deseja, acredito que não há nada melhor do mundo.
Quanto mais der o peito mais leite produz. O seu cheiro faz com que o bebe queira mamar, quanto mais mamar mais leite o seu corpo produz. É um ciclo. 
Muitas mães querem ficar juntinhas aos seus bebes, nessa fase inicial, noite e dia. Isso também facilita a vontade de mamar do bebe. Agora imaginem os comentários : "Esse bebe vai ganhar mãnha" , quando isso é fundamental para ele e para a mãe (isso é outro tema) e "o leite é fraco", tem maior desamparo para uma mãe? 
Em última análise, se você acha que alguma coisa vai mal, pode ir a um banco de leite, onde tem pessoas especializadas para a ajudarem com a amamentação e suas dúvidas.
Também se quiser, analisa-se o ganho de peso com o/a pediatra. Se o bebe cresce e engorda naturalmente, o leite deve estar bom.. O complemento deve ser a última das medidas. 
Ao dar complemento o bebe mama menos e menos leite você produz..
No rio de janeiro existe o iff (instituto Fernandes figueira) gratuito e muito bom, e estão lá para ajudar!

Descobertas com o meu filhinho
As vezes o Vicente mama e empurra o meu peito, dando uns puxões com força.. Descobri que era porque precisa de arrotar kkk. Eu dou o peito e ponho para arrotar, mas as vezes ele arrota mais que uma vez, então quer mamar, mas empurra o peito porque precisa de arrotar... (não porque o leite é fraco kkkk) Estas coisas vamos descobrindo com eles mesmo. 

O emocional
Estamos a falar de gente, então claro que o emocional influência... Uma mãe stressada, triste, sozinha talvez tenha mais dificuldade em produzir leite que uma mãe acolhida. Para esse problema nada mais simples: Ajudar essa mãe, nas suas dificuldades, dar-lhe apoio, fazer lhe uma massagem (exemplo) escutar seus choros para que ela possa produzir leite. Isso em vez de COMPLETAMENTO, parece-me bem mais simples não?

Outra curiosidade sobre o leite
O leite que produzimos não é todo igual, nem durante a "mamada" (este nome é horrível, por amor de Deus, mas é assim kkk) nem ao longo do desenvolvimento do bebe. No inicio ele é mais aguado, para fornecer a água que o bebe precisa, e depois mais grosso e com mais calorias. Assim o bebe fica naturalmente saciado e sabe quando deve terminar (ao contrário do complemento onde sai tudo igual). Depois, à medida que o bebe cresce, o leite vai mudando com mais ou menos calorias. Assim pormenores científicos não sei, mas gostaria de saber..

Peito: Mais que alimento
O peito não é apenas alimento, é aconchego, é o que o bebe conhece e o conforta. As vezes ele esta com dor de barriga, chora de susto, de sei lá o quê... E eu dou peito.. Ele quase não mama nessas alturas, mas fica feliz ali e pronto, que bom!
Outra coisa que escuto muito.."não deixes fazer do peito chupeta" bem, é a chupeta que faz de peito e não o contrário. O meu filho odeia chupeta.já tentei e ele parece que se engasga. Depois de ter tentado dar durante uma noite inteira, ele ficou cheio de ar e passou a madrugada a arrotar.. Deve ter engolido muito ar coitadinho. 
Então se o peito funciona e para nós está tudo bem, assim seguimos..

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O Parto

Estava bem tranquila em relação ao parto.  Realmente é uma caminhada ao longo da gravidez e o parto é mais um degrau..
Com 41 semanas e 2 dias estava a ficar preocupada que ele nunca mais nascia..Apesar de estar dentro do tempo, começamos a sentir a pressão...
Minha mãe tinha chegado de Portugal  para a ocasião. Como ele não nascia a minha mãe pintou o quarto todo do Vicente com balões de ar, e deu para curtir a minha mãe um pouco..o que foi ótimo.


Na virada da lua, (não sei se é verdade que influência ou não) passei o dia encolhida e com pouca vontade de me mexer. Estava o máximo de inchada e de tarde só queria estar na cama abraçada ao meu marido. Ele passou a noite a fazer massagem nos meus pés porque doía muito. As três da manha quando fomos finalmente dormir, meu marido colocou a mão na barriga e perguntou se o nosso filho queria nascer. Nesse momento a bolsa rebentou, ouvi um som oco. Imediatamente nos levantamos. Comecei logo com contrações seguidas. Ligamos à Heloísa, que nos disse para ficarmos calmos, e quando a dor viesse de forma regular para ligar de novo. As vezes, depois da bolsa rebentar, não se começa logo em trabalho de parto. Mas eu tinha dores de seguida, fui para o chuveiro e depois uma dor de barriga daquelas... 
Chamaram a Helo e umas 5h ela chegou na nossa casa. Isso foi ótimo porque uma das coisas que me deixavam nervosa era a hora de ir para o hospital...


A Heloísa escutou o bebe e umas 6h  a dor começou a apertar e fomos para o hospital. Fomos de carro, o Fabio a dirigir a Helo do meu lado. Cada contração ele encostava o carro e a Helo cantava para mim. O dia estava lindo, uma manhã com cheiro de chuva como eu gosto. Passamos a praia do flamengo e o céu cheio de cores. Ficou gravado na minha pele essa imagem. Chegando ao hospital a Fernanda chegou logo. 
Não me queriam deixar subir a pé, tive que ir no elevador, sentada numa cadeira de rodas, o que foi chato porque já estava com muitas dores.. A ultima coisa que queria era estar sentada..


Fomos para a sala humanizada do hospital.. Fiquei uns tempos deitada depois em pé e sentada .. A dor foi começando a apertar. Eu pensava que não seria algo do outro mundo, que já tinha passado por muita coisa na vida... Mas na verdade dói demais kkkk


Durante todo o parto a única coisa que a Fernanda e a Helo fizeram foi ouvir o coração do bebé. Ninguém me cortou (epistomia) nem raspou nem nada. a Fernanda fez o toque só uma vez, e com todo o respeito do mundo: Disse que ia fazer que doía um pouco para eu respirar fundo. E mesmo assim foi desconfortável. Imaginem, em hospitais que se faz isso de hora em hora sem nenhum cuidado...

A Helo levou uma banheira e entrei já com muitas dores. Ai começou a doer demais. Essa foi a pior parte. Uns 6cm de dilatação. Ai é que foi berrar. Gritei tudo o que minha alma podia. Eu precisava de gritar, todo o medo toda a angustia tudo. Pensei que ia morrer (vim depois a saber que isso é normal) chorava, dizia que não ia aguentar que não queria mais. O Fabio chorou de emoção e acho que pena também, mas eu não lembro. Nessa altura entre as contrações eu dormia e sonhava. Por uns 2 minutos. Sonhava com a minha avó, que eu brincava na casa dela , sonhei com o meu nascimento, a minha mãe a passar o mesmo que eu, sonhei com minha tia Luisa. Cenas, cheiros e cores de infância. 
Eu gritava o nome do Vicente e pedia para ele me ajudar .Nessa altura eu achei que não ia aguentar e a Helo perguntou se queria anestesia. Com toda a minha força confiei na Helo e na Fernanda, que elas saberiam o que fazer se eu passasse mal e pensei no meu bebe. Não quis e depois realmente a dor diminuiu. Acho que além da dor eu também fiquei um pouco desesperada. Passado esse momento eu acalmei. Eu sentia que uma perna ia saltar para um lado e outra para outro e que eu nunca mais teria um corpo unido kkkk que haveria de ser só tronco.. Mas depois dessa parte o resto foi menos doloroso..
Eu fiz uma coisa errada, eu achava que tinha que fazer força desde o inicio, então la no final tremia e não tinha mais força..

Saí da banheira porque precisava de me movimentar. Estava também muito abafado. 
Não gostei muito do Hospital. Ouvia muitos barulhos, vindo do corredor, da cafetaria e etc. Num momento de extrema dor ouvi alguém dizer: "Passa a marmita, cara!": No momento de expulsar o Vicente nos últimos minutos, entra uma enfermeira no quarto, que, apesar de ter tido cuidado, bloqueou ali o processo. Gritei com toda a força: Sai daqui!! Este Hospital é uma merda!!" kkk

No meio do processo, na verdade, qualquer barulho ou som é muito agressivo. Não é só a dor. Não é uma dor normal, é uma coisa meio fora deste mundo. Não estava completamente consciente, nem inconsciente. É uma mistura. E os sons de fora, trazem-te á realidade. É como tomar um cogumelo no meio da cidade.. kkk

De toda a preparação, faltou preparar a minha mãe e a minha sogra, que se assustaram de me ouvir gritar. Talvez tivesse que ter dito alguma coisa antes mas eu também não sabia que ia ser assim..

Quando o Vicente finalmente nasceu, foi a maior emoção deste momento.Fomos para um banco e tive o Vicente de cócoras, foi a posição que achei mais confortável,se é possível dizer isso..  Esse é realmente o momento mais marcante da minha vida. Ele nasceu e veio para o meu colo, eu e o Fabio olhamos para aquele corpinho, com uns olhinhos bem abertos, pela primeira vez. Até agora, 3 meses depois me emociono de pensar nesse momento. Começou logo a mamar e o Fabio cortou o cordão umbilical. A Fernanda tirou a minha placenta e mostrou-me: Achei linda: Parecia um pulmão vermelho e pulsante. Despedi-me dela, que alimentou o meu bébé durante 9 meses.

A experiência é desestruturadora fisicamente, e como disse gritei que nem uma perdida e achei que ia morrer, mas por ter sido tão acompanhada e protegida, quando o Vicente nasceu senti-me logo fortalecida. Depois de ter passado por isso, sei que vou sobreviver e ultrapassar qualquer coisa. Inclusive, foi isso que me deu força durante o pós parto. Não me lembro mais da dor. Já ouvi dizer que há uma hormona responsável por esquecermos a dor. Só me lembro que dói mundo mas não ficou gravado no meu corpo.

No primeiro segundo que o Vicente ficou no meu colo senti um estranhamento. Tive que devagar tocar naquele corpinho para sentir que esse era o meu amorzinho: Logo em seguida senti todo o amor possível. Ficamos os três durante um tempo abraçados sem que ninguém interferisse. Isso foi muito importante para mim. Depois enquanto a Fernanda me dava uns pontos, o Fabio foi com a pediatra pesar o Vicente. Eu sabia que ele estava bem, mas deu-me uma agonia de o ver sair..também nessa parte, a pediatra me respeitou e fez todo o processo devagar, com calma e com o meu consentimento. Parece m pouco exagerado, mas naquele momento em que o corpo estava embebido de hormonas as coisas funcionam de outro jeito.

Passaria tudo de novo. Tive o parto que queria ter. Saí do Hospital fortalecida. Passado dois dias estava a andar normalmente e quase sem dor. ( Passados 3 meses não sinto nenhuma diferença de antes. Os pontos foram tão bem dados pela Fernanda que nem sinto que se passou aqui alguma coisa)

Outra mudança: acho que antes de estar grávida eu achava que tinha que ser forte para qualquer coisa, o que me deixava numa situação desprotegida. ninguém é forte o tempo todo. Porém, no meu parto (como eu realmente queria estar bem) eu preparei todas as situações (excelente acompanhamento médico, psicológico, vinda da minha mãe e sogra, meu marido comigo em todo o processo) para conseguir ser forte para cuidar o melhor possível do meu filhinho.

O parto foi para mim uma experiência fantástica e transformadora. Emocionalmente abriu um canal espiritual. Agradeço muito por termos tido esta experiência, na qual o meu bebé nasceu quando queria e certamente com mais conforto do que em outras situações. Defendo todas as mulheres e os bebés, para que possam ter o parto que merecem

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Normal ou cesária

Bom, esta coisa de cesária é moda no Brasil. Pelo que sei. Aqui é que há essa loucura, uma vez que médicos, como todos sabemos acham mais cómodo cortar sete camadas de tecido, para tirar um nenem que normalmente ainda não esta pronto se não já tinha saído. Além disso, como diz a Laura Gutman*, socialmente existe tanta dificuldade em aceitar o animal/natural em nós, que o parto foi transferido para uma parte mais "decente" e acima que é o abdómen.

Mais uma vez friso que tive a sorte de ter um acompanhamento pré parto incrível. Foi caro, mas valeu cada centavo para o resto da mina vida. Tive uma médica, a Fernanda Satty, e uma doula a Heloisa Lessa. É bom porque a Fernanda tem um acompanhamento médico (ultrassom, remédios , tive que tomar levotiroxina sodia para a tiróide por exemplo) e a Helo estava mais concentrada na parte emocional da coisa (ainda que as duas façam ambas). 
É bom dizer que o "parto" não se resume ao dia que o bebé nasce. Junto com minhas médicas, eu preparei (ou tentei) cada inquietação, do parto, do pós parto. Construí uma relação de confiança com elas. Tinha muito medo da depressão pós parto (depois da gravidez conturbada) e de não conseguir amamentar, por ouvir e ler tanta coisa ruim sobre isso. A Helo um dia falou: " mas tu tens-me a mim, não estás só".a partir dai eu pensei: Ta, a responsabilidade do pós parto é da Helo kkkk

 É neste ponto que a questão do parto humanizado faz toda a diferença para mim, mais do que se você vai acabar parindo pela vagina ou pelos ouvidos, devido a problemas "reais" que impossibilitem o parto. Aquelas pessoas respeitam não só o teu corpo e todo o processo, como a tua alma. (o "cordão em volta do pescoço", " muito estreita", "ainda não virou" são apenas exemplos (falsos) que os médicos que não querem fazer parto normal dão. Na maioria das vezes, são eles que aterrorizam as mulheres)

 A questão realmente  é que as mulheres ficam completamente abandonadas. A fragilidade de uma mulher que vai parir é imensa. O parto é transformador, mas tem que ser acompanhado (pode ser por mulheres mais velhas, por tradições culturais o que for). A questão do parto humanizado é questão de cuidado com a mulher e com o bébé. Mais do que quem tem dor a parir ou não tem, quem grita mais ou menos. 
Por exemplo, com 5 meses de gestação fiz uma eco. A médica  até simpatica, disse que tinha um "probleminha na placenta" mas que estava tudo bem. Eu perguntei o que era e ela respondeu: "Vamos rezar para que não seja nada!" e mais nenhuma explicação. Claro que eu chorei 1hora na calçada em frente ao hospital em pleno Leblon. Liguei para a dra Fernanda que disse que estava um pouco baixa mas que naquela fase era normal, que provavelmente iria subir, como de fato aconteceu. Este é o caso, que a médica da ultra não fez nada de mais, além de ser sem noção e me ter deixado super mal. Imaginem se essa fosse a minha médica?

Porque não fiz epidural? Sinceramente morro de medo de intervenções médicas. Quanto menos melhor. Se puder não tomar medicamento não tomo, por isso achei que era melhor para o meu filho e para mim não tomar e sò consegui por ter um acompanhamento tão bom, se não, não teria aguentado..Vale a pena ler sobre as vantagens de não ter nenhuma interferência medicamentosa no parto, a Helo tem um blog bacana: http://equipepartoecologico.blogspot.com.br/

Depois, que no parto humanizado eles deixam a mulher e o bebe (no caso o pai também) a 1a hora juntos. Nesse momentos as nossas hormonas estão no auge e facilitam a ligação com o bébé. O Vicente começou a mamar assim que nasceu. Não quer dizer que se não for assim não há conexão, quer sim dizer que facilitam. Também por isso a pediatra tem de ser do "grupinho" porque ela vai ficar a espera durante uma hora para pesar o bebe. Ninguém leva, nem aspira nem nada o bebé ate uma hora depois e leva 5 minutos.  Essas hormonas liberadas no trabalho de parto, mais uma vez facilitam no pós parto. 

Choca-me profundamente ver mulheres desamparadas, que na maioria nem sabem que estão... Médicos que não se preocupam minimamente,não preparam as mulheres para a transformação que vai acontecer e não estão preocupadas com o pós parto.Ou crenças idiotas que desvalorizam a mulher ("vai estragar o play do papai", esta frase é hedionda, e não estragada nada não!!)
  
Mais do que perguntar cesária ou normal ou humanizado é saber que a mulher terá o parto que ela quiser, se ela está informada, se é cuidada ou não. E sinceramente para mim ter parto da forma como foi, foi tão transformador que eu tenho pena que muitas mulheres nem sabem que essa possibilidade existe, por capricho médico, ou da porra de um sistema que não se preocupa com as mulheres e seus bebes.

*"A maternidade e o encontro com a sombra", vale a pena ler.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A GRAVIDEZ


Fiquei muito louca alucinada durante a gravidez. Mudei para o rio em janeiro, jà um pouco receosa da nova mudança (mais uma vez na minha vida. Não aguento mais mudança! Kk). Dei uma pirada no natal (época propensa) assim, fiquei com ataque de pânico, coisa que nunca tinha tido. Final de fevereiro descobri que estava gravida. Sempre quis ser mãe, mas quando vi aquele resultado queria chorar. Eu queria estar preparada, nao queria ser uma mae pirada, já imaginei o meu filho sentado na psicóloga a dizer: Sofro muito minha mãe é louca kkk, olha so a paranoia. Depois caiu a ficha (depois de 4 anos no brasil) que eu era "estrangeira" que eu nao era daqui. Passei dois meses a pedir desculpa à barriga, nessa altura ainda a barriga era o sujeito da minha fala, não o ser que se formava la dentro, talvez eu pedisse perdão a mim mesma. Tive algumas coisas chatas, enjoei, tive algumas viroses, tive 2semanas de labirintite (também nunca tinha tido), engordei 22kg apesar de tentar comer saudável. 

A minha capacidade mental foi para o espaço. Comecei logo a imaginar que me tornaria o que sempre critiquei (hoje em dia tb não critico mais): Uma "dona de casa". Mais uma vez me imaginei repetindo essa frase horrorosa: Eu adorava estudar, mas depois tive "as crianças e larguei". O espaço racional e de trabalho tão difícil de conquistar para as mulheres, que eu tanto me orgulhava iria escapar das minhas mãos. Aliada a uma dependência financeira total. Tudo isso, tive oportunidade de tratar na psicóloga. Graças à organização de fundo de apoio à mulher gravida chamada marido, dei-me ao luxo de curtir a minha invalidez mental, fazer psicóloga, hidroginástica para gestantes e ter tempo para dormir horrores. A única coisa que queria fazer eram tapetes. Fiz um monte e aprendi na net. Cada vez que tecia um ponto imaginava cada célula do meu nenem. Cada cor correspondia a um membro (braço, perna etc) e demorou 5 meses a terminar, fazendo quase noite e dia. 


Acho que tive um pouco depressão, durante a gravidez. Afinal ela mexe com coisas super profundas em nós. Com o acompanhamento certo, essa desorganização física, mental e espiritual tornou-se numa reorganização linda para mim, so agora, confesso.. Eu lia sobre tristeza na gravidez e aquelas palavras descompensadas que lia nos fóruns ecoavam no profundo da noite: "provoca aborto..." "esquizofrenia fetal" (juro que li isso!!).

 Depois optei por fazer terapia kk,  e decidi curtir o momento, apesar de dificil. É por um motivo. Essa bola de energia que carregamos na barriga traz coisas alucinantes. Sempre me imaginei gravida tranquila, mas foi o oposto. Para mim estar gravida foi perder o controle mental (afinal esse é o pânico não é?), e ver que existe ai uma forma diferente, a biológica. É como correr, a gente controla mas também deixa ir, deixa fluir. Ah sim , e devo dizer que apesar de sentir muito sozinha numa cidade nova e o marido sempre a viajar, ninguém desmereceu o que se estava a passar comigo. O meu marido, família acolheram minha fragilidade para eu me poder reconstruir. Afinal cada um reage de uma forma, nem melhor nem pior.